Todo ser humano possui uma voz única que, além de mera
ferramenta de comunicação, carrega traços de sua faixa etária, sexo, tipo
físico, personalidade e estado emocional. Para alguns, no entanto, ela
representa muito mais do que isso. Cantores, professores, atores, repórteres e
outros profissionais têm na voz uma indispensável ferramenta de trabalho, e
precisam estar atentos aos cuidados que devem adotar para não prejudicá-la. É
claro que todo mundo deve se preservar.
Quem nunca saiu rouco do estádio após um
jogo de futebol, ou de um show da sua banda favorita? Mas profissionais que
utilizam a voz ficam sujeitos a deslizes comportamentais na propagação vocal
com mais frequência. O som que produzimos vem do ar que expiramos dos pulmões.
Simplificando o processo, esse ar passa pelas pregas vocais na laringe, que
vibram e o transformam em pulsos sonoros. Quando existe um problema nas pregas
vocais, essa vibração se torna defeituosa, o que é chamado de disfonia.
A maioria dos problemas é causada por
desequilíbrios e abusos vocais, além do excessivo e mau uso da voz. As lesões
mais recorrentes são o aparecimento de nódulos vocais, cistos intracordais,
edemas e fendas glóticas. Quando estamos calados, as cordas vocais mantêm-se
abertas. Quando falamos, o ar que se exala dos pulmões é forçado através das
cordas vocais fechadas.
A profissão de cantor exige muito da voz,
e de uma maneira diferente. Os movimentos do canto são sofisticados, precisos,
e precisam ser controlados com perfeição. Para tanto, é necessária boa saúde
vocal. A voz é um instrumento musical que anda, fala, tem depressão, chora.
Isso tudo interfere. É importante que o cantor exercite sua voz com
regularidade. Para alcançar notas muito agudas, por exemplo, utiliza-se uma
musculatura que quase não é acionada no dia a dia vocal. Se isso é feito com
muito esforço, sem treino, a pessoa pode acabar danificando suas pregas vocais.
Uma vez instalado o problema de voz e
manifestadas às alterações – rouquidão constante, dor ou ardência na garganta,
falta de ar ou cansaço ao falar, dificuldade para ser entendido, entre outras
alterações –, o sujeito deve buscar um médico otorrinolaringologista, para
realizar uma avaliação da laringe, e um fonoaudiólogo. Este é capaz de avaliar
a voz, associar o diagnóstico do otorrino e tratar a alteração presente caso o
problema seja decorrente do comportamento vocal inadequado.
O cantor Zé Sanfoneiro (do grupo Zé
Sanfoneiro e Zé Filho), vêm sendo acompanhados pela Dra. Emanuela Alves no
processo de reabilitação e potencialização das características e uso da voz,
bem como Alex Pereira (do grupo Forró de Verdade) também já foi submetido a
tratamento obtendo um excelente resultado. Durante o tratamento, algumas
orientações sobre saúde vocal são fornecidas ao paciente com o intuito de
promover mudanças em sua rotina. A hidratação é um exemplo. Um organismo bem
hidratado propicia maior lubrificação da laringe, resultando em menor esforço à
fonação.
A
fonoaudióloga explica que isso vale para qualquer tipo de profissão que exige
muito da voz, não só para cantores. O ideal é ingerir pelo menos dois litros de
água por dia, esclarecendo que não adianta beber um monte de água logo antes do
exercício profissional. Deve ser algo presente no cotidiano. O regime alimentar
também é observado. Se mal balanceado, pode afetar a voz por causa da subida do
suco gástrico para a laringe e a faringe, o chamado refluxo gastroesofágico.
Quando ocorre, traz sintomas de laringite – rouquidão, pigarro, tosse seca, dor
de garganta, entre outros. Deve-se evitar laticínios, chocolate, alimentos
condimentados e gordurosos e café antes do uso profissional da voz. O
fonoaudiólogo oferece ainda ao paciente exercícios para fortalecer a
resistência vocal, que devem ser repetidos diariamente em casa. É importante
ressaltar que as recomendações, embora gerais, devem ser individualizadas e
adaptadas da maneira que couber a cada um. O importante é respeitar os limites
de cada profissional, agir na direção de ganhar resistência muscular e vocal
para que a disfonia dê lugar a uma voz equilibrada.
Emanuela Alves: Fonoaudióloga; Doutorada em Neurociência pela UFRN-RN; Especialista em Neonatologia pela UNIFOR-CE; Especialista Oncologia Fonoaudiológica pelo A.C.Camargo-SP.
Emanuela Alves: Fonoaudióloga; Doutorada em Neurociência pela UFRN-RN; Especialista em Neonatologia pela UNIFOR-CE; Especialista Oncologia Fonoaudiológica pelo A.C.Camargo-SP.
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